O reflexo
mais visível da grave crise financeira do Rio está na rede estadual de saúde.
Nos hospitais e Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), as filas e superlotações
são reclamações constantes. Há ainda relatos da falta de medicamentos e
insumos. A situação chegou ao extremo no fim do ano passado, quando o
governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) declarou situação de emergência na saúde
por 180 dias.
À época, o governador, que está afastado temporariamente
para o tratamento de um câncer, atribuiu a crise à queda de arrecadação no
Estado e à situação econômica no País.
Especialistas apontam outros motivos, como problemas de
gestão, e relatam preocupação com a rede de saúde às vésperas da Olimpíada.
A doméstica Jorgeane Fátima dos Santos, 33 anos, foi à
UPA da Tijuca, zona oeste do Rio, na quinta-feira, com sintomas de dengue, zika
ou chikungunya. Com fortes dores no corpo e febre, disse que foi encaminhada
para uma Clínica da Família, rede de atendimento da prefeitura, para fazer um
exame de sangue. "Mal consigo levantar, mas me fazem ir de um lugar para o
outro", reclamou. Também recebeu indicação de tomar paracetamol, remédio
que não estava disponível. "Era mais fácil ter ido numa farmácia."
O lanterneiro Estênio Queiroz da Silva Filho, 46 anos,
também chegou com os mesmos sintomas e diz que foi encaminhado para um posto de
saúde. "A única coisa que fizeram foi mandar para outro lugar e ainda não
me deram nem soro nem paracetamol, que me mandaram comprar numa farmácia."
Procurada, a coordenação da UPA informou que a
necessidade de solicitação de exame de sangue é avaliada pelo médico que faz o
atendimento. Também negou que haja desassistência aos pacientes por falta de
medicamentos.
Crise
A especialista em saúde pública e professora do Instituto
de Estudos em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ),
Ligia Bahia, diz que há duas dimensões da crise, a econômica, citada pelo
governador, mas também a política. "Há uma queda da arrecadação, isso é
inquestionável, mas somente ela não justifica tamanha devastação na
saúde."
Para a especialista, o foco deveria ser no custeio, e não
em investimentos. "A prioridade tem sido fazer o novo, não resolver os
problemas de saúde da população. São políticas de curtíssimo prazo, marcas de
governo."
O presidente do Sindicato dos Médicos do Rio de Janeiro,
Jorge Darze, afirma que o Estado tem adotado uma política para a saúde
temerária. Ele citou o fato de o Estado não ter destinado 12% do orçamento para
a Saúde no ano passado, porcentual que teria ficado em 9%, com déficit de R$
660 milhões. Para ele, a saúde da população está em risco, assim como ficará a
de quem vier assistir aos Jogos Olímpicos.
"Pedimos que quem venha ao Rio não fique
doente", disse ironicamente. E completou: "O governo parte do
princípio de que a doença pode esperar".
Entre os problemas citados estão hospitais
desabastecidos, equipes desfalcadas, filas para marcação de consulta e
atendimento, além de carência de leitos de terapia intensiva.
Questionada se haverá um plano de reforço no atendimento
da saúde durante a Olimpíada, a Secretaria de Estado de Saúde informou apenas
que caberá à pasta o gerenciamento de 146 ambulâncias cedidas pelo Ministério
da Saúde para os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos. A secretaria disse ainda que
a rede estadual de urgência e emergência passará por processo de reorganização
no fluxo de atendimento, visando à otimização de recursos e a melhora da
qualidade do atendimento.
As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.